4.13.2005

fotografia e humanismo, junho de 2004

Um texto meu sobre Fotografia, já publicado e que ficava bem aqui.
Parece-me claro que a fotografia encerra em si uma particular dimensão de ligação ao Humano.

Primeiro, porque significou, logo desde a sua invenção, a vitória do olhar imediato do artista sobre a realidade: a partir daí, o pincel e a habilidade do executante não mais se intrometeriam na eficácia da representação do real. A fotografia mostrou-se já aí como uma arte do Homem e, principalmente após o aparecimento da Brownie, uma arte popular, que podia ser feita por todos e para todos, inclusive crianças. Superou e, simultaneamente, libertou a pintura da sua função de documentação, ou seja, a fotografia tornou-se garante de veracidade e, por isso, instrumento privilegiado pelo qual a comunidade humana se dava a conhecer a si mesma de modo rápido e global.

Segundo, porque a fotografia rapidamente assimilou, paralelamente à função de documento, a do retrato e a da representação do corpo humano (que já eram temas privilegiados da pintura e que não foi difícil para os pictorialistas iniciais adoptar). Mais tarde, no intervalo de tempo e espaço que foi dos anos 20 e 30 de França até aos anos 50 americanos dominados pela “street photography”, a pessoa quotidiana passou a ser o vector fundamental da obra dos fotógrafos em voga, nomeadamente, claro, Robert Frank e William Klein.

O Homem em todas as suas dimensões permanece hoje em dia enquanto temática essencial do domínio fotográfico, demonstrando a extrema elasticidade e capacidade de aprofundamento da fotografia, como se vê, por exemplo, no sítio da agência Seven, onde o fotodocumentalismo e o fotojornalismo (na acepção de Pepe Baeza) se vão intercruzando. O mundo muda, as imagens transformam-se e a fotografia, que, hoje, confrontada com a televisão e a Internet, se encontra na posição de redefinição da sua identidade enquanto meio, continua e continuará a ter a humanidade como sua fonte principal.